domingo, 27 de janeiro de 2013

Os amores de Batista #1 - A oratória de Tereza




Batista estava apaixonado, coitado! Porém sabia que isso era bom, afinal, cresceu sempre ouvindo de seus familiares as palavras de Jesus, que Jesus era amor, que Deus é amor, então quando se apaixonava ficava todo contente, mas logo desanimava, pois lembrava que ao contrario do Messias, ele não era muito bom com as palavras, era um rapaz que conservava muito amor dentro de si, e muitas pessoas ao passar nas ruas, só de vê-lo percebiam isso, que o rapaz tinha um bom coração, mas ele mesmo, o homem na hora de dizer que estava apaixonado por alguma mulher travava.
Contudo em certa uma ocasião, Batista começou a namorar uma moça. Seu nome era Tereza, moça de igreja, direita, correta, porém, dizia-se nos cultos que cruzava as pernas de uma forma um tanto quanto vulgar, o que atraía a atenção de outros homens casados e que por sua vez causava a ira das esposas destes. Certo dia ficaram aliviadas quando viram Tereza sentar ao lado de Batista, que suou frio quando viu Tereza dar aquela cruzada de pernas ao seu lado, e a saia, que já não era muito longa, ainda levantou um palmo acima do joelho, o que, considerando as circunstâncias já era muita coisa. Ao final do culto convidou Batista para ir orar em sua casa. O homem foi, e oraram e oralizaram a noite inteira e quando acordaram já estavam namorados.
Batista não precisou falar nada e assim como Deus criou os seres viventes sob o firmamento do céu e achou isso bom, Batista também achou achou isso muito bom de não ter de falar coisa alguma, pois Tereza era sempre quem falava tudo, sabia usar a boca como ninguém. O romance durou uns bem três meses sem que Tereza se importasse com o não falatório do namorado até que finalmente a mulher começou a se encher, tomava isso como um desaforo e passava cada vez menos tempo em casa e estranhamente, Batista, que não falava, com a falta de Tereza ficava incomodado pelo fato de não ter ninguém pra conversar, tomou a bíblia como companheira novamente.
Mas como não querendo perder a moça pro silêncio, um dia teve um plano: iria verbalizar até pelos cotovelos. Certa vez, quando ficou em casa sozinho pois Tereza disse que ia ficar o dia todo fora fazendo oratória para os irmãos da igreja, Batista sacou a bíblia e começou a selecionar as palavras mais bonitas do novo testamento para dizer a Terezinha quando chegasse, Batista era um homem de fé e sabia que as palavras do filho do homem não iriam lhe faltar nesse momento para tentar recuperar o seu amor. O homem leu em voz alta, em voz baixa, memorizou, decorou e fez acompanhamento do livro do Apocalipse até no violão, pensado: “essa noite não vai faltar assunto.” Anoiteceu e ficou ansioso só esperando a mulher chegar, até que quando deu onze horas da noite, alguém bate na porta, e ele já cansado, dá um salto do sofá, se ajeita rapidamente tentando recordar de tudo o que tinha lido pra logo disparar todas as palavras sobre ela. Mas quando abre a porta, surpresa! Rose, uma irmã da igreja está segurando Tereza pelos cabelos, o olho de sua namorada roxo.
- Tome a sua mulher! Dá próxima vez vá dizer pra ela fazer orações no inferno!
Batista entendeu o que tinha acontecido e nesse momento o único versículo da bíblia que conseguiu disparar sobre Tereza brutalmente foi: "Para o asno, forragem, chicote e carga; para o escravo, pão, correção e trabalho." Eclesiástico, capítulo 33, versículo 25. O tiro de palavra da boca saiu pela culatra, se ao menos não as utilizou para tratar Tereza com amor a tratou como um asno e como escrava, ao menos agora Batista ganhava vinte reais por cada homem que Tereza fazia uma oração, até o fim de sua vida. E foi assim que Batista, o filho de Deus se fez um homem de verdade!