Batista estava
apaixonado, coitado! Porém sabia que isso era bom, afinal, cresceu
sempre ouvindo de seus familiares as palavras de Jesus, que Jesus era
amor, que Deus é amor, então quando se apaixonava ficava todo
contente, mas logo desanimava, pois lembrava que ao contrario do
Messias, ele não era muito bom com as palavras, era um rapaz que
conservava muito amor dentro de si, e muitas pessoas ao passar nas
ruas, só de vê-lo percebiam isso, que o rapaz tinha um bom coração,
mas ele mesmo, o homem na hora de dizer que estava apaixonado por
alguma mulher travava.
Contudo em certa uma
ocasião, Batista começou a namorar uma moça. Seu nome era Tereza,
moça de igreja, direita, correta, porém, dizia-se nos cultos que
cruzava as pernas de uma forma um tanto quanto vulgar, o que atraía
a atenção de outros homens casados e que por sua vez causava a ira
das esposas destes. Certo dia ficaram aliviadas quando viram Tereza
sentar ao lado de Batista, que suou frio quando viu Tereza dar aquela
cruzada de pernas ao seu lado, e a saia, que já não era muito
longa, ainda levantou um palmo acima do joelho, o que, considerando
as circunstâncias já era muita coisa. Ao final do culto convidou
Batista para ir orar em sua casa. O homem foi, e oraram e oralizaram
a noite inteira e quando acordaram já estavam namorados.
Batista não precisou
falar nada e assim como Deus criou os seres viventes sob o firmamento
do céu e achou isso bom, Batista também achou achou isso muito bom
de não ter de falar coisa alguma, pois Tereza era sempre quem falava
tudo, sabia usar a boca como ninguém. O romance durou uns bem três
meses sem que Tereza se importasse com o não falatório do namorado
até que finalmente a mulher começou a se encher, tomava isso como
um desaforo e passava cada vez menos tempo em casa e estranhamente,
Batista, que não falava, com a falta de Tereza ficava incomodado
pelo fato de não ter ninguém pra conversar, tomou a bíblia como
companheira novamente.
Mas como não querendo
perder a moça pro silêncio, um dia teve um plano: iria verbalizar
até pelos cotovelos. Certa vez, quando ficou em casa sozinho pois
Tereza disse que ia ficar o dia todo fora fazendo oratória para os
irmãos da igreja, Batista sacou a bíblia e começou a selecionar as
palavras mais bonitas do novo testamento para dizer a Terezinha
quando chegasse, Batista era um homem de fé e sabia que as palavras
do filho do homem não iriam lhe faltar nesse momento para tentar
recuperar o seu amor. O homem leu em voz alta, em voz baixa,
memorizou, decorou e fez acompanhamento do livro do Apocalipse até
no violão, pensado: “essa noite não vai faltar assunto.”
Anoiteceu e ficou ansioso só esperando a mulher chegar, até que
quando deu onze horas da noite, alguém bate na porta, e ele já
cansado, dá um salto do sofá, se ajeita rapidamente tentando
recordar de tudo o que tinha lido pra logo disparar todas as palavras
sobre ela. Mas quando abre a porta, surpresa! Rose, uma irmã da
igreja está segurando Tereza pelos cabelos, o olho de sua namorada
roxo.
- Tome a sua mulher!
Dá próxima vez vá dizer pra ela fazer orações no inferno!
Batista entendeu o que
tinha acontecido e nesse momento o único versículo da bíblia que
conseguiu disparar sobre Tereza brutalmente foi: "Para o asno,
forragem, chicote e carga; para o escravo, pão, correção e
trabalho." Eclesiástico, capítulo 33, versículo 25. O tiro de
palavra da boca saiu pela culatra, se ao menos não as utilizou para
tratar Tereza com amor a tratou como um asno e como escrava, ao menos
agora Batista ganhava vinte reais por cada homem que Tereza fazia uma
oração, até o fim de sua vida. E foi assim que Batista, o filho de
Deus se fez um homem de verdade!
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