quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Um Poema de Areia



 A uns quinhentos metros à minha direita havia um edifício alto, cujo nome nunca soube. A água cinza arrastava grandes pedaços de gelo. Inevitavelmente, o rio fez com que eu pensasse no tempo...
O Outro, de Jorge Luiz Borges




Não escrevi, meu propósito era esquecê-lo.
Ou não escrevi pois talvez o fosse só para mim,
um conto de areia.
Mas para acentuar as ênfases
o transformei em palavras.

Para acentuar as ênfases
as coloquei em garrafas para o mundo
e as deixei abertas, tortas em linhas
desalinhadas. Não sei.
Deixei que o mar as levassem
para traze-las molhadas para que

depois de um tempo voltassem secas e maduras,
com frutas, ramos, galhos e raízes.
Enfim, transformadas em árvores completas
(as palavras também precisam de tempo para amadurecer).

Pois, para acentuar as ênfases
depois de um tempo se vestem
de prata, se vestem de rio
se vestem de amor, se vestem de riso
se vertem em sangue, se seguem
umas as outras de adjetivos
para decorar o mundo de sol, de lua
de flor, de dor, de começo, de fim
de corpo de homem e de corpo de mulher
se reconhendo em palavras de vida

pois conhecer é reconhecer,
disse algum dia um Platão
de nosso ou de outro século.
E aprender é recordar
disse algum F. Bacon
de nosso ou de outro século.
E essas são as palavras de árvores
que não deveriam ser esquecidas,
pois ignorar é de fato ter esquecido

poŕem há outras primeiras vezes que ninguém jamais esquece...

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