sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A Caixa


não cabia numa caixa
aliás, no princípio nem caixa havia
a gente pensava que a memória era o suficiente
mas não...

não, não cabia numa caixa
o amor que a gente tinha
por isso era lembrado todo dia
todo vez que a gente se via

não cabia numa caixa
mas ainda assim a gente precisava de uma
mas que fosse bem pequena
só para os detalhes

botões, fotos, cartas
que eram ora de alegria, ora de tristeza
ora de saudade, ora de ansiedade
eram, como eu disse, detalhes

embalagens de chocolate
antigos embrulhos de presente
e revirando de novo, mais uma foto:
nós dois, ambos sorridentes

e na caixa, que a princípio já não cabia nada
que a princípio nem existia
com o tempo foi cada vez mais se enchendo
e a gente precisou comprar outra

mas não, não compramos
a tampa ficava estufada
na caixa que já não cabia
ela em si já não se suportava

se questionava do por que existir
se ninguém nela mais tocava
e num canto ficava jogada
ali, desamparada

e no final, a caixa foi rejeitada
onde morava, foi quase queimada
veio até a minha casa pedir abrigo
quase não a deixei entrar

pois apesar de ser pequena e quadrada
e não caber quase nada, ela ocupava muito espaço
triplicava de tamanho quando aberta
seu volume aumentava, incomodava

e por isso foi expulsa de sua antiga casa
pois em seu interior já não cabia mais nada
tinha tomado todo espaço daquele quarto
e era necessário se esquecer de um amor

entreguei-a vazia, recebi-a cheia
e se nada deu certo: foi culpa da caixa
entregueia-a vazia, recebia-a cheia
e se nada deu certo: foi culpa da caixa, foi culpa da caixa, foi culpa da caixa...

3 comentários:

  1. não é ridículo, mas de fato (hoje) dá vontade de rir.

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    1. Miuta vontade de rir, na época realmente fazia sentido, porém hoje sinto que soa meio piegas, haha.

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