Contados
São herméticamente contados
Três palmos de mãos
Quatro solas de pés
Cinco passos no chão
Oitenta pessoas em pé
Oito óculos, quatro pares de olhos
E um vagão
Dez bolsos, nenhum paletó
Vinte e três camisas, suadas
Nenhum chocolate na caixa
Dois reais no bolso
Herméticamente contados
Corredores de gente
Latas de gente, em conserva
Espremidos, amassados
E à venda anunciam:
Dignidade, dignidade!
Mas ninguém consegue se mexer
Para tirar o dinheiro do bolso
E chega a próxima estação
E a dignidade ficou pra trás
Passou, foi pro outro vagão
No outro dia eu compro
Mas no dia seguinte: passou
E no outro dia também
E na semana seguinte também
E assim, o dinheiro também
Assim a dignidade paciente espera, aguarda
O próximo mês para ser comprada...
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