quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Vilania Ex-Minha

Em minha vilania
na casa de minhas luzes
já se foram algumas lembranças
lembranças de menino

Mas se há algo que ainda lembro
é de um muro pequenino
que a minha memória
conseguiu pular

Ela pulou para dentro de um livro
que pulou pra dentro de um menino
que pulou por cima do portão
que caiu na escuridão

Que saiu pela porta dos fundos
Que pegou uma fruta no abacateiro
Se espetou no limoeiro
E levou um abraço de sua avó

Que saia pra ir até a feira
e que levava o menino
que não queria ir, queria ficar ali
em sua vilania

Mas sua avó o arrastava
e o abacateiro, o limoeiro
e o livro ficavam para trás
Mas a sua pequena vilania o aguardava

Ali ficava
se despedindo dos dois
agoniado agoniado
com medo de que não voltassem...

O muro coitado
o muro da vilania
o muro que o protegia
o muro que o recebia e o aguardava

Aguardava aquele menino
que voltou sozinho
dez anos depois
crescido, crescido

E o muro não mais o reconhecia
e o menino tentava pular
mas ao tentar, escorregava
em lembranças que já não o pertenciam mais

Aquela vilania, do muro pequenino
do menino que saiu pela porta dos fundos
do menino que se espetou no limoeiro
do menino do abacateiro já não existia mais

Se tornou uma vilania ex-minha
pequenas redordações que
restaram da casa de minhas luzes
tremeluzentes e opacas...

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