terça-feira, 29 de novembro de 2011

Mulher Boa



- Por que você não morre logo?
Essas foram as últimas palavras que eu escutei da pessoa que em vida eu amava e que se certa forma até que de mim cuidava, mas cuidava assim: eu saia, bebia, fumava, e quando chegava era recebido com pancada. Isso lá é amor? Realmente gostaria de saber, vocês acham que isso é amor? Lá no altar ela havia me prometido que iria me amar, me prometeu isso sobre o juramento de Deus que o faria, fosse na saúde ou na doença, na alegria ou na tristeza, na riqueza ou na pobreza ela deveria me amar! E no entanto quando bebo e fico alegre, e diga-se de passagem a pessoa mais alegre do mundo, ela não quer compartilhar a minha alegria. Quando chegava pulando em cima dela com a gola da camisa esgarçada, cambaleando pela calçada, vendo as luzes embaçadas ela já vinha afoita para me bater, e depois, bem, depois de fazer escândalo no meio da rua, vinha a pior parte, ia me arrastando para dentro da casa, as vezes até me puxando pelo cabelo, me levando até o chuveiro. Nesse momento eu até pensava que ela estava me levando pra ducha que era pra gente fazer amor... mas que nada! 
Era o inferno, era água fria na cabeça: Seu desgraçado!, ela falava! E eu ficava lá, só olhando, admirado, caído, a água escorrendo pela minha cabeça e eu pensando, meu amor, meu amor! Você me trata tão bem, tão bem! E amanhã eu vou comemorar, amanhã eu vou beber de novo! Ô mulher boa que o senhor me deu Senhor!

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